O incumprimento tem tudo para aumentar nos próximos tempos

O incumprimento tem tudo para aumentar nos próximos tempos, resultado do cocktail explosivo alta inflação/alta de juros; literacia financeira débil

O incumprimento tem tudo para aumentar nos próximos tempos, resultado do cocktail explosivo alta inflação/alta de juros; literacia financeira débil e mudança de comportamento das novas gerações.

A inflação galopante e o aumento do custo dos empréstimos continuam a ser um problema para as finanças das famílias portuguesas. À medida que os seus rendimentos reais estagnam ou até diminuem, os consumidores terão de fazer escolhas difíceis. Cortar as despesas do dia-a-dia e mudar para retalhistas low cost pode dar-lhes alguma flexibilidade, mas apenas até certo ponto. Eventualmente, quando o seu dinheiro acabar, os consumidores deixarão de pagar as suas contas e muitos deles irão recorrer a empréstimos com mais facilidade.

O incumprimento por parte dos consumidores tem tudo para aumentar nos próximos tempos, resultado do cocktail explosivo alta inflação/alta de juros, débil nível de literacia financeira e mudança de comportamento das novas gerações.

De acordo com o mais recente documento publicado pela Intrum – Perspetiva do CEO – que revela alguns pontos chave das principais conclusões do estudo European Consumer Payment Report 2023, que estará disponível na próxima semana, três quartos (76%) dos consumidores estão a ultrapassar o ponto de equilíbrio ou a gastar mais do que o rendimento todos os meses.

A capacidade de resistência de muitos consumidores está por um fio porque não dispõem de uma "reserva de liquidez" para cobrir despesas inesperadas. É preocupante que, um em cada cinco (20%) admite que não tem poupanças para recorrer e outros 17%, têm poupanças de valor inferior a um mês de rendimento.

s conclusões do mais recente estudo da Intrum vão ao encontro da informação publicada na notícia de ontem da TSF, onde Alfred Kammer, diretor do FMI aconselha os bancos portugueses a evitar canalizar para dividendos a totalidade dos lucros, que estão a aumentar, pedindo antes reforço das reservas de capital como 'almofada' perante eventual aumento do malparado e das falências. "Em resultado do ajustamento pós-pandemia, vamos ver um aumento das falências, vamos ver um aumento do crédito malparado, e isto é em toda a Europa, esta não é uma questão específica de Portugal", reforça o Diretor do FMI.

Na perspetiva de Andrés Rubio, Presidente e Diretor Executivo da Intrum, "As empresas devem preparar-se para gerir o impacto de futuros pagamentos atrasados e de créditos em incumprimento. Se investirem mais na compreensão das razões subjacentes aos atrasos de pagamento, isso ajudá-los-á a adaptar as suas abordagens para satisfazer as necessidades dos clientes e a reduzir a taxa de pagamentos em atraso. Devem ser cautelosos, por exemplo, em adotar uma abordagem dura em relação aos clientes que têm dificuldade em pagar as suas faturas e os seus empréstimos. É pouco provável que tal tenha um impacto significativo nos níveis de dívida incobrável da empresa, podendo mesmo ser contraproducente”.