ECPR 2025 revela agravamento do incumprimento
Salários em atraso em Portugal levam a duplicação de incumprimento financeiro em 2025
ECPR 2025 revela agravamento do incumprimento, aumento da ansiedade económica e maior distância entre rendimentos altos e baixos
Custo de vida deixou impacto permanente no bem-estar financeiro de 62% dos portugueses.
O European Consumer Payment Report 2025 (ECPR), da Intrum, revela um alargamento da desigualdade financeira entre os consumidores portugueses, que leva ao incumprimento das suas obrigações.
Uma causa significativa de incumprimento prende-se com salários em atraso. Em 2025, a percentagem de consumidores que não receberam os seus salários quase duplicou e passou de 12% em 2024 para 21% em 2025. Os homens são mais afetados do que as mulheres (26% vs. 16%) e quando falamos em regiões, o Alentejo (55%) e a Área Metropolitana de Lisboa (22%) destacam-se como as mais impactadas.
Contudo, a principal razão apontada para o incumprimento continua a ser a falta de dinheiro disponível, com impacto particularmente severo na Geração Z, onde 46% afirmam não ter fundos para pagar as suas contas. O atraso ou ausência de pagamento de salários quase duplicou num ano, afetando sobretudo homens e residentes no Alentejo e na Área Metropolitana de Lisboa.
Sobre as razões para o incumprimento, o estudo realizado em 2024 revelou que os consumidores que não pagaram as suas contas eram mais propensos a afirmar que simplesmente se tinham esquecido (29%), apesar de terem capacidade para o fazer. Em 2025, este valor registou uma ligeira queda, situando-se nos 27%.
Enquanto 89% dos consumidores com rendimentos acima da média se sentem confiantes na capacidade de pagar todas as contas dentro dos prazos, apenas 36% dos consumidores de baixos rendimentos partilham essa confiança. A capacidade de absorver uma despesa inesperada de 400 euros cai para 33% neste grupo, muito abaixo da média europeia, que é de 52%.
O ECPR 2025 evidencia também que quase dois terços dos consumidores portugueses (62%) consideram que o aumento do custo de vida dos últimos anos teve um impacto negativo permanente no seu bem-estar financeiro, um valor muito acima da média europeia, que se situa nos 43%.
A nível geracional, o impacto do aumento do custo de vida em Portugal é mais sentido pela Geração Z (69%), seguido da Geração X (68%). Entre as regiões, Alentejo, Açores e Madeira registam as percentagens mais elevadas (67%), seguidas da Área Metropolitana de Lisboa (65%).
O ECPR 2025 indica que, em média, as finanças dos consumidores estão a melhorar na Europa. A percentagem de europeus que pagam todas as sua contas dentro dos prazos aumentou de 63% em 2023 para, 76% em 2025. Em Portugal, porém, observa-se uma evolução distinta com 77 % dos consumidores a confirmar que pagaram todas as contas dentro dos prazos em 2025, vs. 85% em 2024, revelando uma quebra negativa. Na análise a nível regional, o Centro destaca-se positivamente com 84%, enquanto o Alentejo apresenta o valor mais baixo, com apenas 46% dos portugueses a conseguirem pagar as suas contas dentro dos prazos. Na Área Metropolitana de Lisboa este valor situa-se nos 78%.
O estudo mostra ainda um ligeiro decréscimo na perceção da capacidade dos portugueses para sustentar a família com 60% por cento a responder positivamente em 2025, comparados com 62% em 2024. A média europeia é de 71% em 2025 vs. 63% em 2024. Quanto à capacidade de suportar despesas relacionadas com o trabalho, como transportes públicos, esta subiu para 68% este ano, face a 65% em 2024, revelando mais dificuldades face à média europeia de 73% em 2025 vs. 61% no ano passado.
Ansiedade económica e decisões adiadas
A perceção de fragilidade financeira também tem reflexos diretos no comportamento económico. Por exemplo, na Europa, os consumidores portugueses são aqueles que referem sentir mais ansiedade ao acompanhar notícias sobre a situação económica (47%), com maior incidência entre as mulheres (53%) e a Geração Z (52%). Em termos regionais, no Alentejo, este valor sobe para 56%, enquanto o Centro apresenta a taxa mais baixa, com 43%.
Esta incerteza traduz-se numa forte contenção do consumo e 68% dos consumidores afirmam adiar a compra de casa ou automóvel devido à incerteza económica, valor significativamente superior à média europeia (45%). Já o receio de mudar de emprego ou iniciar um negócio atinge 62%, podendo comprometer o dinamismo económico num país fortemente dependente das PME.
De acordo com Luís Salvaterra, Diretor-Geral da Intrum Portugal «os resultados do ECPR 2025 mostram que, apesar de alguns sinais de melhoria na confiança dos consumidores, persistem fragilidades relevantes no bem-estar financeiro das famílias portuguesas, em particular quando analisamos o impacto acumulado do aumento do custo de vida. O estudo evidencia também um agravamento das diferenças entre consumidores com diferentes níveis de rendimento, bem como uma maior frequência de situações de incumprimento entre os agregados mais vulneráveis.».